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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Colaboração da Amiga Fernanda Guadalupe ...

... transcrita para esse Blog afim de partilhar com meus leitores .





Fernanda Guadalupe

‎"Por favor... cativa-me!

- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa nenhuma. Compram tudo pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os... homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto".



(E assim se celebrizou o verbo cativar, “apprivoiser” no original, tão difícil de conseguir como de traduzir).



Se a beleza duma obra não reside realmente no seu tema, se a arte não é apenas a recriação da beleza de acordo com os gostos e padrões de cada época, se a arte não é apenas um quadro com anjinhos a tocar alaúde, que significa?

Muitos tratados se escreveram, muitos métodos se ensinaram, haverá sempre muito caminho a percorrer e nada se esgotará nos quadros de Caravaggio nem no sorriso aprisionado da Mona Lisa.



Sinto que a emoção é parte da razão, e é na emoção que mora o motivo porque olho tão intensamente este desenho e ciosamente o possuo neste momento.



"Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.

- Que é um rito? perguntou o principezinho.

- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias".



Em nome da segurança e das ideias convencionais, teremos que ver um anjo e um santo, um homem e uma mulher, com o aspecto que deveriam ter, distantes, dependurados em paredes ou encurralados em museus, metidos em Tês uns e outros Tês?



Não foram feitos para serem vistos, disputados, fazendo soltar olhos em vez de soltar línguas?



"Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:



- Ah! Eu vou chorar.

- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu

te cativasse...

- Quis, disse a raposa.

- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.

- Vou, disse a raposa.

- Então não sais a lucrar nada.

- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo".



Olho para aquele desenho, mais uma vez. Procuro descobrir o que é real e o que é imagem.

Mas não sei decifrar a sua arte, e muito menos sei se ela existe ou não. Só interessa a sua beleza, sem perceber as técnicas da sua geometria e das suas sombras. Interessa gostar. As técnicas do desenho são importantes como os ritos, mas não são o mais importante. Há alturas em que devemos arriscar gostar, mesmo sem os ritos.



Não é preciso entender tudo para se gostar, pois não?



FG - com texto de Saint Exupery - O Principezinho 
Gratos Fernanda !

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